A valsa dos partidos, de Collor a Dilma

Rookie

Nesse primeiro de abril lembramos os cinquenta anos do golpe. Vi uma série de reportagens e matérias sobre o evento, sobre as causas e as supostas causas, mas pouco vi sobre onde chegamos desde então. Não sou historiador, não tenho calibre para escrever nada a respeito da história política, mas gosto de estatística e de analisar dados coloridos. Por isso, gostaria de compartilhar com vocês o resultado da aplicação de algumas técnicas estatísticas interessantes no estudo e análise do que tem sido a política brasileira desde o fim desse período sombrio de nossa história até os dias de hoje. Queria compartilhar a estatística da câmara dos deputados, os movimentos, fluxos e tendências, desde o governo Collor até a presidência de Dilma. Esse post é imenso, e extremamente incompleto. Preciso da ajuda de vocês para entender a maioria do que observei. Se você achou o post longo, basta ler o começo para entender como os gráficos funcionam e se divertir nos vídeos.

Como expliquei nos posts anteriores sobre o assunto, esse não é um blog de política e esse não é um post político. Comentários culpando os petralhas ou a privataria tucana não são tão bem-vindos quanto análises refletidas sobre os dados que vou apresentar. E tento manter meus comentários sempre no lado da estatística da coisa, não insiro nenhuma informação sobre a ideologia dos partidos nos dados e não faço juízo de valores das decisões dos governos de cada partido.

Antes de apresentar os dados, preciso explicar o que são esses dados. Como nos posts anteriores, eu uso como dados apenas os votos proferidos pelos deputados da câmara nos projetos de leis envolvidos naquele ano. Cada gráfico representa os deputados daquele mandato como pontos coloridos, sendo a cor referente ao partido. Pontos próximos significam deputados que votaram de forma semelhante. Pontos distantes significam deputados que votaram de forma muito diferente. Dessa forma, podemos identificar blocos e estruturas na política. Simplificando bastante, você pode imaginar o gráfico dividido em quatro quadrantes, a posição dos deputados e partidos nesse quadrante diz bastante sobre o lugar deles no cenário político:

quadrado

Ou seja, nesse gráfico os eixos não importam, o importante é a distância entre os deputados, essa sim significa alguma coisa. Eu pensei em mostrar as matrizes, como da outra vez, porque gosto bastante delas e porque elas representam a informação completa enquanto esse gráfico é uma projeção em duas dimensões de um problema a $N$ dimensões. Por motivos que eu pretendo algum dia terminar um post explicando, eu não perco tanta informação quanto vocês imaginam passando de $N$ a duas dimensões, essa é uma das maravilhas da técnica de análise de componentes principais. Esse fato é resultado da intensa polarização da estrutura política, mas isso eu discuto em outro post. Em cada gráfico, contei apenas deputados que votaram em mais de 30% das eleições em todos os anos daquela legislatura, a ideia é desconsiderar suplentes e gente que abandonou o barco para fazer qualquer outra coisa. Já tenho poucas votações, se eu os incluísse correria o risco de admitir um circo de estatística de péssima qualidade sujando meus dados, não podia correr esse risco.

E quais os dados desse gráfico? Usei apenas os votos de cada membro do congresso, ou seja, se eles disseram “Sim” ou “Não” às propostas que estavam em votação no plenário. Pela estrutura dessa conta, pouco importa se é sim ou se é não, eu estou interessado apenas em quando deputados votam de forma parecida ou divergente. Para quem gosta da matemática envolvida, uma frase apenas (que você pode ignorar se não entender): esse gráfico são as coordenadas dos dois componentes principais, ou seja, as coordenadas dos autovetores da matriz de correlação associados aos dois maiores autovalores, ponderados pelos autovalores.

Mas você, como eu e o Datena, quer as imagens. Sem mais, começamos com o primeiro, e mais turbulento, mandato da nova democracia brasileira.

  • Governo Collor/Itamar: 1991-1994

É complicado começar com esse período, porque ele é um dos mais complexos e interessantes. Os pontos que levanto aqui levam em conta os períodos seguintes, e o contraste que ele apresenta com os períodos de democracia mais estável.

O ano 91 apresenta uma política bem esparsa e pouco polarizada. Percebemos a região do governo dominada pelos herdeiros políticos dos partidos decorrentes do Arena: PP e PFL dominando essa região representando a “base aliada”. É complicado falar de governo e oposição em um mandato em que o presidente era de um partido minoritário, tão pequeno que foi excluído da análise, apresentou apenas quatro deputados na câmara e eu não queria gastar uma cor com o PRN, cores são preciosas nesses gráficos.

De 91 para 92 notamos uma polarização em um regime tríplice curioso. O governo é contrastado com duas oposições, de um lado o bloco PMDB-PSDB e do outro PT-PDT-PCdoB. Ainda que oposicionistas, esses blocos divergem entre si, criando essa tripla estrutura de poder que não dura muito tempo.

De 92 a 93 ocorre uma grande reviravolta no cenário político, o que imagino ser resultado da deposição do presidente em dezembro de 92. O resultado é uma espécie de governo de coalizão: base aliada e oposição se aproximam nas votações da câmara dos deputados. Eu nunca ouvi falar de tal processo, nem sei se era completamente conhecido, mas a estatística é clara: situação e oposição votaram de forma profundamente semelhante em 1993 contrastando drasticamente com o comportamento apresentado nos anos anteriores (e posteriores, como veremos).

Não me arrisco nas causas da coalizão, deixo a quem sabe do assunto. Poderia chutar que a queda do presidente e o temor de uma volta da ditadura poderia ter impulsionado os parlamentares a acertarem suas diferenças e terem votado, durante 1993, de forma semelhante em projetos importantes, ou a busca do presidente Itamar pelo apoio dos partidos mais à esquerda; mas posso estar, e provavelmente estou, completamente errado.

No final de 93, percebemos o PMDB migrando para a zona governista. Não quero estragar o suspense dos próximos vídeos, mas revelo que ele não sairá de lá tão cedo.

E onde está 1994?

Eu também gostaria de saber! Os dados que obtive da câmara mostram a convergência de dois fatores tristes para minha análise: em 94 houve um número extremamente reduzido de votações totais e uma proporção particularmente elevada de votações secretas, apenas 17 votações abertas dentre as 84 votações totais. Como base de comparação, tomemos os anos vizinhos: 93 teve 75 votações abertas e 179 totais, 95 teve 138 votações abertas e 248 totais. A pista para entender esse mistério talvez esteja no ano que é o segundo colocado em matéria de poucas votações abertas: 2002 (41 votações abertas e 116 totais). Aparentemente em anos de eleição em que há mudança de governo, há poucas votações e, dentro delas, uma proporção muito baixa de abertas. Não confirmo que essa seja a razão, ambos também são anos em que o Brasil ganhou a copa do mundo, deixo os números aqui para vocês e aguardo interpretações.

Uma palavra no código de cores. Os partidos progressistas são todos denotados na cor rosa porque, no futuro, irão se fundir. Isso foi uma decisão estética, falta cores no espectro visível para tantos partidos no Brasil. É importante também notar que o laranja, apesar de mesmo nome, não é o atual PSD, o “partido do Kassab”. Este PSD será extinto e o novo PSD irá se apropriar do nome, ele também se apropria da cor porque meu código de gerar esses gráficos é indiferente às sutilezas da política brasileira.

  • Governo FHC I: 1995-1998

O primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso representa uma grande estabilização na política nacional, definição razoavelmente clara de governo e oposição com uma forte base aliada composta dos partidos progressistas, do PFL, do PSDB e uma grande fatia do PMDB. Os movimentos durante esse período são suaves e eu não pude perceber nenhum fenômeno marcante na dança dos partidos durante esse ano. Percebemos um fato que se repetirá nos mandatos seguintes, parece ser uma lei da política brasileira: a cada mandato, a base aliada começa coesa e termina difusa. Nesse mandato, percebemos esse efeito mais claro no último ano. Minha interpretação é tão boa quanto a sua ou pior, mas isso pode representar a incerteza dos parlamentares quanto ao apoio que deve ser atribuído em ano de eleição. A difusão em 1998 é fraca comparada a 2002, o que pode ser explicado pela vitória esmagadora de FHC nas eleições de 1998, ou pode também ser explicada pelo fato de 98 ser a análise de mais de 100 votações enquanto 2002 apenas de 41. Ou seja, não tenho uma explicação muito convincente para esse comportamento.

Olhando esse gráfico, eu lembro do PMDB do senado em 2012, que estudei em outro post. Ainda que faça parte da situação essencialmente, ele é razoavelmente difuso e dança de acordo com o resto do conjunto. É fácil ver que o PMDB parece ser equivalente ao sistema total, apenas em escala menor. Para confirmar essa suspeita, precisamos do tira-teima, vejamos esse mesmo gráfico colocando o PMDB em destaque.

Esse gráfico mostra que durante o governo FHC I, como vai o PMDB, assim vai o Brasil. Fica a pergunta se o PMDB segue os movimentos da câmara ou se os define, mas uma coisa é clara: essa cauda do partido indica uma oposição enrustida em alguns de seus membros.

O maior problema desse período também é minha profunda falta de conhecimento das manobras políticas da época. O ideal é observar o gráfico, encontrar fenômenos e tentar explicar com as manobras, mas confesso que as manobras ajudam a ter algo para procurar. Fato é que entre meus sete e onze anos eu não assisti tanto ao Jornal Nacional, então minha conclusão final é: período tranquilo, bem definido com oposição reduzida e forte base aliada, sendo o PMDB o partido menos coeso, mais dinâmico e quase distribuído proporcionalmente em torno do espectro.

  • Governo FHC II: 1999-2002

Esse período apresenta um dilema na análise. Olhando de forma ingênua, podemos achar que a base aliada se desintegrou pouco a pouco conforme o governo avançava. Enquanto isso é coerente com o que leio do segundo mandato do governo FHC, o ano 2002 é particularmente problemático: até o PT parece se dispersar! Mas devemos lembrar que esse ano possui um número anômalo de votações, apenas 41, isso pode ser a maior causa da falta de coesão de todos os partidos. Usando um número tão pequeno de votações, podemos obter um resultado que não convergiu bem para a real coesão partidária, e certamente não tanto quanto os anos anteriores.

Notamos, contudo, a continuação da forte polarização governo-oposição, sendo a base aliada PSDB, PFL, PMDB, PP/PPB e PTB, a oposição liderada pelo PT e contendo PCdoB, PDT e PV, com o PL em terra de ninguém entre os dois mundos. Novamente, se alguém é um entendido no período, preciso de um norte para analisar esses resultados. A olho nu, não enxergo nada particularmente importante além da continuação do fenômeno de desintegração da base aliada no decorrer de um mandato. A explosão parece particularmente acentuada em 2002, mas não posso dizer o quanto disso é um efeito real ou da estatística precária que possuo. Pensei em fazer como 1994, que omiti, mas 41 parece mais justo que 17. Toda essa estatística não é de primeira qualidade, o fato de ter menos votações que deputados pesa, mas é o que tem para hoje. Fazemos o que podemos com o que temos.

O período seguinte é o governo Lula, mas prefiro estudar a fundo a transição FHC-Lula. Por si, ela valia um post, e é provavelmente a parte mais interessante desse post todo.

  • Transição FHC-Lula: 2001-2004

Lembrando que Lula foi eleito em 2002 e assumiu em 2003, o que é esperado em nossos gráficos? De forma ingênua, podemos esperar que os blocos oposição e governo troquem de lugar, como em uma quadrilha democrática, imaginamos que o movimento diagonal será intenso e que pouca gente ficará no mesmo lugar. E estaríamos errados.

E difícil analisar duas legislaturas diferentes, pois me parece injusto comparar quem saiu com quem entrou. Para evitar esse problema, reduzo o espaço amostral: nessa seção, analiso apenas os deputados que se reelegeram em 2002, ou seja, estavam presentes tanto em FHC II quanto em Lula I. Dessa forma, consigo segui-los durante os anos 2001-2004 sem me perder ou sem cometer injustiças. Vejamos o que acontece:

É muita coisa para seguir, mas conseguimos distinguir parte do comportamento esperado, e parte de um comportamento curioso. Enquanto há de fato uma troca entre oposição e governo, PSDB-PFL dançam quadrilha com PT-PCdoB-PDT-PL-PDT, trocando de lugares no jogo democrático quando o governo é assumido pelo presidente Lula. Mas há diversos outros partidos no balaio, e é fascinante como o movimento do PMDB-PP/PPB-PTB é drasticamente diferente dos outros partidos. Enquanto o primeiro grupo troca de lugar, o segundo estaciona e trata a mudança de governo com a naturalidade de uma quarta-feira. Para deixar esse fenômeno explícito, e provar que não estou inventando, reproduzo esse mesmo gráfico em dois: um com os partidos “ideológicos” (PT, PSDB, PFL, PCdoB, PDT, PL) em destaque e outro com os “governistas” em destaque.

 Não quero inserir juízos de valor nessa análise, quero bastante me conter, mas convenhamos, esses gráficos não parecem ser do mesmo período. Lembrando o que esse gráfico representa: em 2001, os deputados do PMDB, PP/PPB e PTB votavam profundamente alinhados com os votos do PSDB/PFL. Em 2003, esses mesmos deputados votavam exatamente como o PT votava! Certamente houve uma mudança na orientação partidária, nas alianças políticas, mas eu quero enfatizar que esse gráfico segue as mesmas pessoas. Em uma diferença de meses eles passaram de seguidores fiéis da direita tucana a apoiadores incondicionais de todas as propostas petistas de esquerda no plenário. O fenômeno é fascinante, e a matemática é implacável: esses deputados passaram por alguma experiência reveladora, como Saulo de Tarso, que os compeliu a se fazerem uma nova pessoa, um novo homem ou mulher, deixando para trás ideias que pregaram durante no mínimo quatro anos, e politicamente desde 1993.

Observando o gráfico com o foco nos ideológicos, percebemos o início da derrocada do PSDB. Notem que tanto PSDB quanto PFL deixam um “rastro” de deputados na base aliada, pontos azuis e roxos que se recusam a abandonar o barco quando afunda e preferem apenas pular para a nova embarcação vermelha que ancorou nas águas governistas. Entre o primeiro e segundo ano do governo, percebemos que esse rastro de deputados tucanos e frente-liberais é rapidamente absorvido em uma fagocitose política que não deixa traços. Foram eleitos pelo PSDB e PFL, essa foi a sigla que financiou suas campanhas de reeleição; mas entre maioria na câmara e integridade ideológica acabaram fazendo uma escolha bem definida. Fossem um ou dois eu poderia suspeitar de um avivamento esquerdista individual, mas a quantidade traz desconfiança.

  • Governo Lula I: 2003-2006

Estudamos esse governo em outro post, mas agora temos muito mais base de comparação com os governos anteriores. Enquanto naquele post eu disse que o comportamento de correlação entre as duas metades do primeiro governo Lula era compatível com a narrativa de um mensalão, revejo essa análise à luz dos dados dos governos tucanos anteriores. Parte desse movimento pode ser apenas esse fenômeno natural de desintegração da base aliada ao longo de uma candidatura. Ainda, o movimento petista em 2005 é ligeiramente diferente da dispersão normal, há um isolamento do PT em relação aos outros partidos da base aliada. Curiosamente, o PT volta ao centro da base aliada em 2006. Levanto duas possibilidades de explicação:

  1. O escândalo do mensalão isolou o PT em 2005, mas em 2006 a poeira havia baixado e a condição de normalidade se reestabeleceu.
  2. A desintegração da base aliada é um fenômeno natural, mas em 2006 as eleições presidenciais estavam praticamente certas e a base aliada não arriscou fazer compromissos com a oposição para poder mudar de barco caso afundasse.

Ou qualquer outra explicação que vocês encontrarem, não coloco minha mão no fogo por nenhuma análise política minha e quero deixar isso bem claro. É fundamental notar o caminhar da oposição durante esse mandato. A política brasileira desde 2003 tem sido a história da derrocada dos partidos de direita. Compare a força oposicionista (distância da base aliada e coesão partidária) petista durante o governo FHC e a força da oposição ao governo Lula. Não se enganem, notem a escala dos eixos, a distância horizontal é muito mais importante que a vertical. Matematicamente falando, nesse período PSDB e PFL votaram de maneira dispersa e não confrontam a base aliada na mesma ordem de grandeza que a oposição de períodos anteriores. Houve uma tentativa de coesão em 2005, provavelmente resultado do escândalo político dando força à oposição, mas 2006 amanheceu um novo ano e o PSDB explodiu na direção da base aliada.

  • Governo Lula II: 2007-2010

Lula foi uma poderosa cola na base aliada durante seus oito anos de mandato, e particularmente nos quatro últimos. A presença do PMDB se revela mais uma vez fundamental para o poder da base aliada: se os verdes estivessem no outro canto do gráfico, o PT passaria poucas leis durante o mandato de Lula. A base aliada é composta majoritariamente de PT-PP-PMDB-PR, enquanto oposição é PSDB-PFL/DEM.

Se a oposição terminou o primeiro mandato de Lula aninhando-se na base aliada, ela começa novamente bem longe e suficientemente coesa, para ir novamente se aproximando e se difundindo. É notória a presença do PSOL, seus três deputados como um sistema ternário de estrelas passeiam pelo espectro representando a coesão do partido e seu caráter oposicionista.

Percebemos a crise do PFL nesses dados, não apenas por sua mudança de nome para DEM. Note o que é esse mesmo período, focando apenas os frente-liberalistas:

Não apenas esse partido, central na base oposicionista desde 2003, visita constantemente a base aliada; ele pouco a pouco se dispersa e cede à tentação de abraçar a zona governista. O PSDB segue em parte, na natural aproximação entre base aliada e oposição que parece ocorrer ao final de cada mandato. O movimento do DEM se completará no governo Dilma, e sua trajetória de 1991 a 2013 não terá final feliz.

  • Governo Dilma: 2011-2013

Chegamos aos dias de hoje, e o governo Dilma apresenta uma estatística rica e, em minha opinião, mais interessante que a dos predecessores. O primeiro fenômeno observado é o surgimento do PSD, que não é o mesmo PSD de antes, a falta de originalidade no nome reflete minha falta de originalidade nas cores. Esse novo PSD é o tal “partido do Kassab”, e se alastra na região central do espectro político como uma epidemia que varre o DEM e pesca alguns parlamentares da base. Os democratas hesitantes do governo Lula encontram casa nesse novo PSD, e vale estudar esse fenômeno com mais cuidado para determinar exatamente de onde são recrutados os novos integrantes desse partido.

A criação do PSD consuma o destino do PFL/DEM, e completa sua trajetória de majoritário na base aliada em 1991 a uma sombra do que já foi em 2013.

Outro fenômeno interessante aparece durante o governo Dilma. Em outras legislaturas, pudemos observar a difusão da base aliada como um processo natural, mas há algo diferente no governo Dilma. Não é uma simples difusão, em 2012, o PT é isolado na base aliada, enquanto o restante dos partidos migra para uma região central formando uma segunda base governista. Pela primeira vez desde 1992 temos novamente uma estrutura com três polos de poder político: PT-PCdoB no topo da base aliada, o grande bloco governista PMDB-PP-PTB-PSD e o que chamávamos de oposição PSDB-DEM.

Nesse contexto em que as divergências entre o bloco central e o PT são grandes, vale questionar nossas noções antigas de oposição e base aliada. Ainda que o vice-presidente seja peemedebista, as correlações entre PMDB e PT parecem se deteriorar bastante conforme Dilma vai governando. A base aliada não se torna exatamente difusa com o tempo, ela se polariza em duas, como se o PMDB decidisse formar sua própria base aliada e não convidasse Dilma para a festa.

  • Conclusões?

Não tenho conclusões próprias desse experimento. Os gráficos estão corretos e minhas análises provavelmente erradas, peço novamente a contribuição de vocês para lerem esses dados e apontarem o que esqueci ou inventei. Como isso é ciência, divulgo o conjunto dos dados usados e os dados brutos, bem como os vídeos para download aqui. Façam suas próprias análises, questionem meus gráficos e combatam minhas afirmações, analisem como acharem adequado e justo; esse é o único jeito de se fazer ciência, o único de se chegar a uma resposta certa.

Minto, talvez tenha uma conclusão. Os gráficos que apresentei colocam em xeque uma noção política que tentamos usar no Brasil, mas falhamos: nossa tentativa de rotular partidos e parlamentares como de esquerda ou de direita. Em uma conversa de bar, se você perguntar sobre parlamentares de direita, provavelmente ouvirá como resposta a bancada evangélica, Jair Bolsonaro, Paulo Maluf; entre outros. Jair Bolsonaro e Maluf são do PP (base aliada), enquanto em 2013 foram considerados líderes da bancada (evangélica) os parlamentares João Campos (PSDB-GO), Anthony Garotinho (PR–RJ), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Lincoln Portela (PR-MG) e o senador Magno Malta (PR-ES) (Wikipédia), notamos que apenas o primeiro deles pertence a um partido dito de direita, os outros todos são membros de partidos profundamente enraizados na base aliada petista, nominalmente um governo de esquerda. Junte isso ao FHC, grande cacique do PSDB, defendendo abertamente a legalização da maconha para ter uma imagem colorida do que é a política brasileira.

À luz dos dados, e da valsa que foi acompanhar o espectro político durante 22 anos, não consigo mais usar termos ideológicos para a política brasileira. Não é desilusão, é estatística; esses dados são isentos de ideologia e mostram com quem cada parlamentar votou. Essa dança de pontos parece ser mais facilmente explicada como conjuntos de parlamentares que conseguiram alianças ou não conseguiram alianças, suas opiniões em programas sociais, dívida pública, direitos contraceptivos, privatizações ou direção econômica não parecem valer dois centavos, já que um mesmo parlamentar pode em 2002 apoiar azul e em 2003 votar exatamente como vermelho.

Isso me parece um resultado natural de nossa cultura política. Não votamos em partidos, votamos em indivíduos, em parlamentares individuais. Nessa lógica, o indivíduo ganha força sobre o partido, o que traz a riqueza desses gráficos. Se essa análise fosse feita na França ou nos EUA, os gráficos nos matariam de tédio, os partidos possuem muita força e um parlamentar que sai da linha não é facilmente perdoado, todo gráfico seria composto de blocos extremamente coesos e distantes. A quantidade de partidos e sua distribuição de tamanho seriam também muito diferentes: nos dois países mencionados eu poderia fazer este gráfico em preto-e-branco, enquanto aqui falta frequência no espectro visível para tanto partido; se eu precisasse representar o PSC eu teria que usar infravermelho.

Retomando a origem deste post, temos o golpe de 1964. Nele, alguma direita acusou a esquerda de uma tentativa de golpe e, para evitá-lo, tomou a iniciativa. Atualmente, essa noção está tão longe de nossa política quanto os gols de Pelé daquela época estão de nossa seleção. Se levantarem em nossa conversa de bar reclamações sobre o direitismo de Jair Bolsonaro, podemos argumentar que o partido de Bolsonaro foi estatisticamente indistinguível do PT durante o governo Lula. Suas declarações pouco importam, seu impacto é nos votos. Nessa discussão podemos ouvir que o PSOL é o único partido verdadeiramente de esquerda do Brasil, e podemos responder que ele foi estatisticamente mais próximo do PSDB que do PT ou do PCdoB durante todo o governo Lula e em 2011 os três deputados psolistas foram quase estatisticamente indistinguíveis de um típico deputado tucano. E se isso é uma conversa de bar, preciso perguntar: há direita no Brasil? Há esquerda? Não tenho respostas para essa pergunta, essa hipótese não foi necessária para minha análise. Tenho partidos vermelhos, azuis, verdes, rosa, cinza e laranjas surgindo, morrendo, brigando, valsando e compondo com complexidade e riqueza sinistras a câmara dos deputados, e, nela, definindo os rumos dessa nação.

62 ideias sobre “A valsa dos partidos, de Collor a Dilma

  1. Carlos

    Olá Ricardo,
    Esse é o primeiro post que leio no seu blog e gostei bastante. Parabéns pela análise e por disponibilizar os dados, tendo tempo, pretendo brincar um pouco com eles em breve. De primeira, não tenho nenhuma grande discordância com sua análise, parece confirmar uma impressão (minha e de vários outros) que existe um bloco “governista” que se mantém atrelado ao poder independentemente da ideologia corrente. Agora, existe uma tese de que o PT se movimentou mais para o centro ao entrar no governo. Isso pode explicar (em parte) a falta de movimentação do PMDB na transição FHC-Lula. Para esclarecer isso, imagino que seria interessante adicionar atributos ao conjunto das votações (talvez um experimento de crowdsourcing?), medindo os seguintes aspectos dos projetos:
    Economia: mais/menos intervenção do Estado.
    Vida privada: mais/menos liberdade de escolha.
    Em vez de um eixo esquerda/direita, isso sugere um plano com quadrantes em que talvez algumas posições partidárias ficassem mais claras (p.ex o PSOL talvez caísse no quadrante mais intervencionismo estatal/mais liberdade individual).

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Eu concordo, seria fascinante um estudo temático por tipo de votação. Nisso poderíamos esperar encontrar blocos políticos não-oficiais, como a bancada evangélica ou a ruralista, mas a quantidade de tempo envolvida na triagem de todas as decisões tomadas a cada ano é astronômica, como você notou, tive que me contentar em colocar tudo no mesmo balaio.

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  2. Rogério Brito

    Gostei do artigo, mas gostei mais ainda de você publicar os dados. Mas faltaram os scripts/programas. Que programa você usou para as visualizações após a projeção via PCA? Foi R? Algum pacote em particular? Foi Octave? Algum pacote em particular aqui também? Alguma coisa diferente disso?

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    1. Ricardo Marino Autor do post

      Olá Rogério! Não publiquei os scripts porque tenho vergonha deles, o mundo veria minhas capacidades pífias de programação e ririam conjuntamente do número de vezes em que repeti o mesmo código ao invés de usar uma estrutura de loop decente. Para visualizar os dados usei o matplotlib, biblioteca do python, só mandei um scatter plot das coordenadas dos maiores autovetores e sofri para atualizar as cores e o nível de fade conforme os deputados iam mudando de partido.

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    2. Leandro

      Sobre os scripts, vc pode ver na página abaixo a ideia básica das animações usando matplotlib (biblioteca do python)
      http://jakevdp.github.io/blog/2012/08/18/matplotlib-animation-tutorial/

      Sugiro dar uma olhada na seção “Basica Animation”

      A seção Particles in a Box é um exemplo parecido com as animações deste post, porém um pouco mais complexo pois as partículas interagem entre si e entre as bordas do desenho

      Para baixar o python com compilador e várias bibliotecas básicas (incluindo o matplotlib) acesse:
      https://www.enthought.com/downloads/

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  3. Sebastian

    Olá Ricardo!

    Adorei a tua análise. A evolução temporal dos agrupamentos é muito curiosa e não dá margem a interpretações. Não sou profundo conhecedor de análise de componentes principais (PCA), então quero tirar algumas dúvidas e também fazer algumas sugestões e comentários. Aliás, você pode me indicar alguma referência para aprender PCA? Algo além do Wikipedia, por favor.

    Um comentário que costumo ouvir bastante quando vejo gráficos de PCA é com relação aos eixos. Até onde entendo eles não tem muito significado “físico”, apenas uma ferramenta para mostrar o agrupamento. Achei curioso que os eixos não são simétricos. Acredito que se você normalizasse eles entre [-1:1], ou até mesmo omitisse os rótulos, ninguém teria de se preocupar com seu significado.

    O limite entre aliados e oposição é a diagonal? Neste caso, acredito que ajudaria na visualização se você incluísse a diagonal nos gráficos ou até rotacionasse as figuras para ver a dança de um lado para o outro do carnaval político deixando claro que o centro é o muro.

    Eu fiquei muito curioso para ver a linha do tempo completa, saber qual projeto de lei recebeu qual voto e até mesmo se no final das contas o projeto foi aprovado ou não. Acho que assim seria possível localizar no tempo que tipo de alianças (ou acordos) foram feitas para que determinado projeto fosse aprovado (ou não) e procurar correlacionar as escolhas dos senadores a outros eventos e até mesmo às ideologias partidárias. Acredito que o principal problema dos partidos aqui no Brasil não é o excesso deles, mas a impressão de não possuírem opiniões e políticas públicas bem definidas. Isso, por sua vez, leva a uma oposição que é sempre do contra, independente da proposta.

    No teu texto você manteve muito bem a neutralidade, salvo quando começou a opinar como seria em outros países, como frança e EUA. Aqui no Brasil temos mania de culpar e responsabilizar os políticos por tudo. Não estou querendo defender ninguém, mas política e corrupção é um mal que assombra todos os países. E por isso acredito que a mesma análise em outros países pode ter resultas similares ou até surpreendentes. Adoraria ver tais resultados e, se eu tiver tempo, talvez eu crie coragem para fazer.

    Mais uma vez parabéns!

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Olá Sebastian. Fico feliz que tenha gostado da análise. Infelizmente não conheço nenhum material realmente excepcional sobre PCA, também não é minha especialidade e o que aprendi foi mais “nas ruas”, explicações de professores e colegas. Os eixos não são simétricos porque se eu multiplicasse pelos devidos fatores para os normalizar, a visualização ficaria comprometida, eu teria os dados “espremidos” ou “esticados” demais, o que prejudicaria a leitura. O real sentido do gráfico não são os eixos, mas a distância entre os elementos do gráfico, como você notou. Quando comparei com outros países, não estava reclamando do Brasil; mas eu de fato juntei alguns dados do congresso francês e vi que a análise seria fraca, os partidos votam em blocos coesos e eu não ganharia muito com esse tipo de técnica. Não é algo melhor ou pior, é diferente, fico feliz que a técnica se aplica ao menos ao Brasil. Se quiser se arriscar a aplicar PCA em outros países, tem meu apoio =)

      Responder
  4. Ricardo S.

    Ricardo M.,

    Especificamente sobre a parte da transição FHC –> Lula: o fato do bloco do PMDB, PP/PPB e PTB continuar no mesmo lugar, ou seja, governista, apenas comprova a realidade. E a realidade é: não há grandes diferenças ideológicas entre PSDB e PT!

    Você chama o PT de esquerda e o Partido da SOCIAL DEMOCRACIA Brasileira de direita. Só no Brasil mesmo que Social Democracia é de direita.

    Responder
    1. Paul

      Ricardo,

      Siglas e Nomes no Brasil, muitas vezes são apenas nomes bonitos.

      Você acha mesmo que os DEMOCRATAS, que se originam da Arena-PDS-PFL da ditadura, são mesmos democratas?

      E Partido Progressista com Jair Bolsonaro, é realmente progressista?

      E chamar PSDB de Social Democrata? Onde isso. só nome. Ou se enxergar assim, Partido da Socialite Do Brasil. Ai fica mais claro.

      Responder
    2. glauco

      Há motivos para concordar e discordar de vc. Primeiramente para a comparação de direita e esquerda é necessário colocar o critério de definição. Uma coisa relevante é esquecer o significado do nome do partido mas olhar sua prática. Assim como o PT muitas vezes caga e anda pros trabalhadores, ou daria pra dizer que muitos que compõe o partido não são trabalhadores de fato, o PSDB pode não agir tão em prol da Social Democracia quanto diz em seu nome. Também não discordo que o PT e o PSDB estão tããão distantes quanto muitos pensam, mas o PT sempre fez oposição forte ao PSDB quando este estava no governo. Neste sentido o PSDB era da direita e o PT de esquerda, uma vez que isso pode também se referir à oposição ao governo. Já o PT no governo não abandonou a forma de governar do PSDB, ainda bem. Se não teria feito a reforma comunista que seu partido tem como ideologia. Portanto, concordo que eles não estão tão distantes. Economicamente falando o PSDB é neo liberal, diminuição do estado e afins. Já o PT prefere a linha de estado forte, contratação de serviços públicos, não privatização etc… Outro exemplo em que o PSDB acaba sendo direita e o PT esquerda. Outro ponto é se comparados entre sí (economicamente, e politicamente) PT está mais à esquerda que PSDB. Logo se PT está a esqueda do PSDB, PSDB está à direita do PT. Assim coomo se PSTU estivesse na presidência o PT iria parecer um partido de direita e muito conservador. Todavia, comparando o PSDB com as direitas mais tradicionais e conservadoras de outros países( já que no nosso país os conservadores tradicionais não tem mais tanta relevância política), realmente ele será um partido de esquerda.

      Enfim, acho que posso ter cometido vários erros na minha análise, mas meu ponto é que dizer que o PSDB pura e simplismente é um partido de esquerda, pode depender do conteúdo que se analisa, isso acredito não estar errado.

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      1. Alex Catarino

        Essa análise aqui carece de contexto:
        “Todavia, comparando o PSDB com as direitas mais tradicionais e conservadoras de outros países ( já que no nosso país os conservadores tradicionais não tem mais tanta relevância política), realmente ele será um partido de esquerda.”
        Como os partidos mais tradicionais e conservadores (de centro-direita) de outros países bem como os de centro-esquerda rumaram para a direita desde a década de 80 quando Reagan e Thatcher foram eleitos, fica fácil chamar o PSDB de esquerda quando hoje ele é simplesmente o centro-direita antes dessa radicalização. Os próprios PSDB e PT (e partidos atrelados) têm seguido essa tendência com o PT incorporando políticas econômicas neoliberias.

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  5. Francisco de Borja

    Olá Ricardo,
    muito legal teus estudos,
    estou implementado uma ferramenta web de análise dos votos da Câmara dos Deputados e já tenho resultados bem parecidos para 1991-2014, assim que colocar na web passo o link. note: estou usando Singular Value Decomposition (SVD) para a redução de dimensionalidade.

    Sobre a “valsa” e “falta” ideológica dos partidos tem diversos estudos da ciência política que descreve isso, como toda ciência eles também usam evidência estatística e imparcialidade – o legal do teu trabalho é que tu comunica isso de maneira bem acessível.

    No sistema brasileiro a primeira opção do partido sempre’ é uma estratégia que visa maximizar número de votos (ou cargos cc); Essa estrutura foi criada nos governos populistas 40s-50s através do nosso sistema eleitoral de coligações e governo-oposição de coalizão.
    Algumas referências interessantes:
    Ideology or What? Legislative Behavior in Multiparty Presidential Settings
    Patterns of Legislative Politics: Roll-Call Voting in Latin Partidos e coligações eleitorais no Brasil

    Keep up the good work!

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  6. João Alberto Catran Kessler

    Também estou longe de ser um analista político ou historiador. Na verdade entendo pouco sobre o tema (e esse post é uma grande evidência de que não da pra entender a política brasileira ou que, ao menos, não da pra entender as ideologias partidárias). Feito esse disclaimer, deixo você enquadrar meu comentário no nível-bar (conforme classificado em seu antepenúltimo post, hehe).

    Achei bem interessante a observação que você fez sobre o número de votações e a proporção de votações abertas/secretas em anos eleitorais.

    Seria ingenuidade nossa não imaginar que em ano eleitoral o foco é ganhar voto. Também não quero tomar partidos, mas tenho percebido que no ano de 2014, por exemplo, o governo está muito preocupado em distribuir máquinas e equipamentos para os municípios. Porque será? Certamente não é caridade. Olhe nessa notícia, cara, que dado vergonhoso: http://oglobo.globo.com/pais/em-ano-eleitoral-entrega-de-maquinas-por-dilma-prefeitos-cresce-1000-11973008

    Fora isso, eu achei genial os gráficos que focam em analisar o PMDB. O primeiro deles, que mostra ele se movimentando em conjunto de toda a câmara (FHC I) reforça a teoria de que o partido não possui estrutura partidária alguma – é uma verdadeira bagunça!

    Mas mais interessante ainda (concordo com você) é notar que o PMDB não é um “bom quadrilheiro” – os caras ficam paradinhos “guardando caixão” na transição de FHC II pra Lula I. A principal ideologia ou bandeira do partido é ter correlação alta com a situação. O PMDB é o famoso “Maria vai com as outras” da política brasileira.

    No período atual o PMDB só tá discordando do PT porque o PT não quer dar ministérios e repasses pra obras pro PMDB. Por isso eles estão formando um bloco governista próprio – muito legal ver isso nos números.

    Queria que a população toda tivesse acesso ao seu Blog, e que tivesse capacidade de entendê-lo! Você não considera alguma maneira de dar maior visibilidade a esses posts? Parabéns, fico cada vez mais orgulhoso de você!

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  7. Rômulo

    Ricardo, bom trabalho. Acho que sua análise vai de encontro com muitos trabalhos sobre comportamento partidário no Brasil. Penso que você poderia publicar esses resultados. Ademais, a polarização “ideológica” ou estratégica pode ser resumida a dois blocos PT e PSDB. Acho que você fez bem em não cair na armadilha de falar sobre ideologia partidária, o que está mais do que provado que não é o que define a política partidária nem do Brasil e nem da maioria das democracias. Existe uma tendência de centro. Centro-governista e Centro-oposicionista. Nesse “centrão” tudo pode acontecer.

    Abraço

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  8. Nuno Crokidakis

    Caro Ricardo,

    parabéns pelo seu estudo. De fato, a sua análise revela vários dos padrões que podemos observar acompanhando a “evolução” da política brasileira nos últimos anos. Também sou físico e por acaso tenho interesse recente em estudar eleições de forma estatística, mas com um foco diferente do seu. De qualquer forma, foi muito interessante ler seu post (li todo), deu pra aprender muita coisa.

    um abraço.

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  9. Jairo Sena

    Em 1840 rolava a modinha:
    Por subir Pedrinho ao trono,
    Não fique o povo contente;
    Não pode ser coisa boa
    Servindo com a mesma gente.

    e assim é o Brasil. Tanto faz quem assume o poder, o que vale é estar lá.
    Parabéns pelo post!

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  10. walter tabax

    muito bom esse seu post. Uma sugestão: daria para juntar todos os infovídeos em um só e subir no youtube? fica mais legal de ver.

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    1. Ricardo Marino Autor do post

      Hesitei em juntar todos porque não tive boas ideias para a transição entre governo, não queria um vídeo todo picado e não conseguiria fazer o movimento de transição entre candidaturas diferentes sem seguir apenas os que se reelegeram. Mas é de fato uma boa ideia.

      Responder
  11. Sérgio Braga

    Prezado Ricardo,
    Meu nome é Sérgo Braga, sou cientista político e estou fazendo pós-doc em Leeds. Gostei muitíssimo de sua análise, mais provocativa do que a de muitos cientistas políticos e mostra que os partidos brasileiros não são tão coesos assim como querem alguns. Teria alguns comentários a fazer, mas deixo para depois.
    Por ora, tenho apenas uma dúvida: como você calculou os dados a partir das votações nominais para a montagem dos scatter? Eu consegui configurar as votações, mas a soma obtida nas colunas não apresenta nenhuma coerências.
    Qual a fórmula usada para o cáculo dos índices e a partir de que coluna ela se aplica? No mais, abraços, aguarde algumas observações minhas pois há algumas pequenas imprecisões em seu texto. Abrs,

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Olá Sérgio. As votações nominais foram convertidas da forma 1 = Sim, -1 = Não e 0 = outros. Excluí os deputados que votaram poucos e, usando os que sobraram, construí a matriz deputados x votos (matriz M, com dimensões D x V). A matriz de correlação dessa matriz de dados é C = M.M^t, e possui dimensões D x D, cada entrada i,j representando a correlação entre o deputado i e o deputado j. A partir daí basta tomar os autovetores associados aos dois maiores autovalores para ter as coordenadas que melhor projetam essas correlações em um plano, e esse é o gráfico que você vê. Os eixos X e Y não têm interpretação simples, o que realmente importa é a distância entre os pontos, que está ligada à correlação de Pearson entre eles.

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  12. Douglas B. Rodrigues

    Sobre a transição PSDB-PT, interpreto da seguinte forma: Quando o PT era oposição, ele votava de forma extremamente ideológica, pois não tinha que se preocupar em não desagradar muito uma base aliada. Quando passou a ser governo, fez uma aliança com partidos que eram aliados do governo anterior, de modo que passou a não votar tão ideologicamente quanto antes. Assim, resulta que a forma como o PT vota é mais parecida com a forma como a oposição vota do que no período FHC., assim fica mais difícil para a oposição se diferenciar do governo. Sobre o PSOL estar estatisticamente mais próximo do PSDB/DEM, isso é devido ao gráfico distinguir somente oposição-situação.

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Quanto à proximidade do PSOL, esse gráfico é em duas dimensões. Eu realmente esperava uma distinção, se não horizontal, ao menos vertical entre o PSOL e PSDB. Mas noto que isso aconteceu apenas em 2011, nos outros anos ele se distancia bastante dos tucanos.

      Responder
  13. Nicolau

    Olá Ricarod, primeira vez que comento aqui. Primeiro, muito bom o post, os gráficos são muito interessantes. Mas discordo dessa conclusão final de não existirem diferenças ideológicas entre os partidos no Brasil. Primeiro, e fundamental: não é possível dizer se uma pessoa é de direita ou esquerda (ou nas outras clivagens que o Carlos sugeriu acima) sem saber sobre que questão ela decidiu. E a análise nem pretendeu isso, pelo que entendi, só ver como se comportam em relação ao governo de ocasião.
    Segundo, os dados disponíveis não mostram isso: há dos grupos bem definidos que discordam sistematicamente. De um lado, PT, PCdoB e, com maiores variações, PDT, e de outro PSDB e PFL/DEM. Mesmo sem saber sobre o que discordam, o fato é que discordam, e isso aponta para questões mais bem fundamentadas e um comportamento mais consistente nos partidos.
    O que os dados mostram é que existe, e isso é fato, um grande “bloco cinza” na Câmara, que aí sim cabe perfeitamente na sua análise final sobre nossa cultura política. Mas acrescento que nosso sistema eleitoral colabora para isso.
    Mas cabe dizer também que esses fisiológicos são, em sua maioria, conservadores também, no sentido de não admitirem mudanças drásticas no status quo. Por isso, mais uma discordância: a presença desses parlamentares modifica a própria agenda de votações e propostas de um governo. Então, a presença do Bolsonaro ou de fundamentalistas religiosos na base governista impõe constrangimentos e até vetos na agenda do governo. Ou seja, ele não precisou votar contra o PL 122 (criminalização da homofobia) ou o projeto de taxação de grandes fortunas apresentados pelo PT porque constrangeu o governo a não apoiar explicitamente esse projeto.
    Em tese, partidos políticos são uma forma de setores da sociedade exprimirem seus interesses. No Brasil esses interesses ficam difusos numa massa de partidos, mas isso não quer dizer que eles não existam.
    Enfim, dei aqui meus palpites. E uma última observação: por que não entraram dados sobre o PSB? Gostaria de ver como se comporta o partido, que esteve muitos anos entre os aliados preferenciais do PT e agora foi para a oposição.
    Abraço e parabéns de novo pelo texto!

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Olá Nicolau. Seus comentários são bem pertinentes, e admito que a análise carece da profundidade ideológica necessária para concluir completamente que direita e esquerda no Brasil são como maçã e banana. Esse feedback, em que a presença de direitistas históricos na base aliada mina a própria origem de votações de temas polêmicos, é válido e não levei em conta. No entanto, a conclusão de que no balaio da base governista podemos encontrar de tudo ainda se mantém, e afirmar uma ideologia em uma massa tão difusa é complicado. Tive medo de dividir as decisões entre “sociais”, “econômicas” ou outras categorias porque não tenho nem paciência nem competência para essa análise, espero que alguém tome o bastão na corrida e se interesse por isso.

      Responder
  14. Éden Amorim

    Tenho seguido suas postagens com empolgação desde que descobri esse blog. Já até apresentei a meus alunos sua iniciativa de análise política com as ferramentas de estatística e álgebra linear, de outra postagem. Com essa não poderia ser diferente: vou tentar entender sua construção dos vídeos pela análise de autovalores e autovetores – afinal, sou ‘matemático puro’ e manjo pouco de estatística, rs – e apresentar aos meus alunos.

    Sobre a questão ideológica, acho que vale só um comentário, uma preocupação minha, rs. De fato já temos uma sensação de que a motivação e movimentação dos partidos é mais uma busca por “governabilidade” do que ideais ou orientação política. O que é uma pena, pois o ‘cidadão médio’ começa a naturalizar a ideia que política se faz por pura troca de favores, e por equívoco e ignorância política expandem a máxima “não existe esquerda e direita no Brasil”. Mesmo que seja verdade para partidos, não é para a sociedade. Claro que não é essa ideia que seu texto passa ou tenta passar… mas por via das dúvidas e más interpretações, seria bom evidenciar que independente da estrutura ou do jogo de partidos e de suas ‘torcidas organizadas’, os conceitos de orientação política e todo seu espectro ideológico – de vários eixos, não só esquerda-direita – existem, influenciam e identificam nossas decisões, opiniões e visões sociais e políticas, como indivíduos ou grupos.

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  15. Tales Marinho

    Parabens seu post foi sensacional, melhor artigo politico que já li, nunca imaginei que o PMDB tivesse no poder desde o governo collor, realmente Parabens

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  16. Samuel Oliveira

    Ricardo, encontrei aquele seu primeiro post sobre política há um tempo atrás e achei fantástico, a forma como vc apresenta os seus resultados é muito didática e trás informação tanto pro leitor que não tem nenhuma a respeito de estatística quanto pro leitor mais familiarizado com ela.
    Esse último post então está interessantíssimo, observar as alianças políticas variando no tempo ficou muito interessante pra entender um pouco da dinâmica da política no Brasil.

    Enfim, empolgado com aquele seu primeiro post eu propus como trabalho final de uma disciplina de redes complexas realizar algumas análises dos dados de votações do senado e do congresso. Algumas coisas vão ficar bem parecidas com o que vc fez. Por exemplo, vamos analisar como as alianças políticas se comportam no tempo, só que pra isso vamos usar redes de sinais, grafos onde o sinal das arestas importa. Mas tem outras coisas que podem ser interessantes tb, como a detecção de blocos/comunidades de nós a partir de algumas propriedades das redes e por aí vai.
    Quando terminar isso gostaria de te enviar, quem sabe vc não tem alguma dica, sugestão ou ache interessante pra algum tipo de análise.

    ps.: Fiquei curioso sobre como vc está calculando a correlação entre os votos dos deputados, vc está usando correlação de pearson? ou está usando alguma outra medida.

    Abraços

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Olá Samuel. Fico feliz que meu trabalho tenha inspirado trabalhos de final de curso interessantes, espero que seus alunos tenham gostado. Adoraria ler os resultados. Para a correlação usei Pearson mesmo, mas estou aberto a sugestões de outros tipos de análise de correlação. Um abraço.

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  17. Pingback: Papo de Bar – Todo mundo aqui é comunista! | Ano Zero

  18. MARCEL FARAH

    Ricardo, eu sugeriria, para aprimoramento da análise e para contrapor a tese de que não há esquerda e direita, ou para concordar que não podemos tratar esta classificação de forma polarizada, pois a organização social tem variações concretas entre um polo e outro, formando um espectro mais diversificado do que o da luz, como vc pôde ver (ou não), sugiro a leitura do 18 de Brumário de Luiz Bonaparte, em que o autor, destrincha esta análise sem o uso do seu código. Experimenta.

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  19. Joel Luis Carbonera

    Olá.
    Estou passando apenas para parabenizá-lo pelo trabalho. Tenho acompanhado o blog desde o primeiro post que envolveu análise estatística do cenário político. É realmente muito interessante.

    Esse tipo de trabalho pode inspirar outros na mesma linha, estatistica e computacionalmente embasados, focando nos dados, para análises políticas.
    Não conheço os periódicos da área de humanas, mas tenho a impressão que trabalhando com co-autores da área, o trabalho poderia ser publicável. Mas é só especulação.

    Continue assim que está ótimo.

    Responder
  20. Paulo Carneiro

    Ricardo

    É a primeira vez que leio seu post e, desde já, quero parabenizá-lo pelo interesse no tema político e pela forma racional que procurou dar à análise. Há tempos refiro-me aos analistas políticos de grande imprensa com a forma pejorativa de “jornalistas de botequim” já que ninguém se dá ao trabalho de se debruçar, estudar e fazer uma análise racional dos fatos. Nem exijo que seja com o viés estatístico que você apresenta. Esse viés, contudo, não deve ser negativamente interpretado. Pelo contrário.

    Embora não seja estatístico e nem analista político, há tempos fiz minhas próprias análises “de bar” e ingenuamente coloco minhas conclusões no intuito de apresentar uma ou outra peça no seu quebra-cabeças.

    1. A orientação política do público (qualquer) é sempre pendular, oscilando entre vanguarda e conservadorismo, esquerda-direita, ou seja lá o nome que se atribua. Mas, salvo raras situações de quebra de ordem (revoluções no sentido acadêmico) atinge os extremos.
    2. Se representarmos as forças partidárias numa curva normal, creio que teríamos – da esquerda para a direita – Extrema Esquerda (EE), Esquerda (E), Centro-Esquerda (CE), Centro-Direita (CD), Direita (D) e Extrema-Direita (ED).

    Com o esgotamento do período militar (ED) e o sentimento da população clamando por renovação, o movimento pendular se deslocou da direita em direção a esquerda, sem chegar ao extremo. Nesse momento, a população era Centro-Esquerda e votou na Social-Democracia que ocupava exatamente aquela faixa (CE). Era de se esperar que o apoio ao governo FHC viesse dos partidos de CE, E e EE já que ideologicamente era natural que assim fosse. No entanto, a barreira petista, com forte coligação com os extremistas de esquerda, negou este apoio, obrigando o governo FHC a deslocar-se para a CD, em oposição ao movimento pendular da opinião pública. Houve um vácuo de posicionamento na CE, que ficou “vazio”. O PSDB abriu mão da CE deslocando-se para CD. Curiosamente, ao fim do primeiro mandato de FHC, o PT não percebeu isso, mantendo sua postura de E, perdendo a eleição. Quatro anos depois, inteligentemente, o PT deslocou-se para a direita (Carta aos Brasileiros) ocupando o espaço abandonado pelo PSDB.

    Note que esse movimento pendular é observado, inclusive, em orientação política de governo. Vejamos: maior interferência do estado na economia x menor interferência. Maior liberdade na decisões do individuo x maior intervenção no quotidiano individual (lei da palmada, etc.). Estado Indutor x Estado provedor. E assim vai.

    As trapalhadas do governo Dilma, e a radicalização dos movimentos ditos “populares” que sabemos, nada tem de popular, mas movimentos orquestrados pela EE, me parece, estão fazendo o pêndulo retornar para a centro-direita, onde o PSDB se encontra hoje.

    Todo esse blá-blá-blá que escrevi deve, talvez, ser somado às suas brilhantes análises: 1. quase não temos ideologias nos partidos, e sim personalismo; 2- O PMDB é quem tem o poder de fato, já que de seu apoio depende o governante; 3- As votações inusitadas de um mesmo parlamentar, dependendo do governante de plantão, demonstram que não temos projeto de país e sim projeto de poder.

    Acho que este último fator – projeto de poder – é determinante no elenco de votações. Como projeto de poder, entendo, a “cacicagem” política (com poder) seja no nível regional ou nacional, dependendo do raio de influência e ambição de cada parlamentar.

    Como disse, opiniões de botequim, mas espero que esse foco contribua para sua interpretação dos dados.

    Abraços e, novamente, congratulações pelo post. Passarei a segui-lo.

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  21. Hudson

    Na verdade nem existe direita no país. Pelo menos no campo econômico. Todos os partidos políticos brasileiros são constituídos com bases de esquerda, como forte controle e tamanho estatal e o Estado como indutor do desenvolvimento social.

    Responder
  22. Mais uma bela análise, parabéns.

    Me parece que existe ainda uma espécie de terceira via para explicar as observações (atenção: não acho que seja necessariamente a correta, trata-se de uma hipótese, e o mais provável é que a explicação final seja uma combinação de todas) – a conclusão talvez não seja a de uma inexistência de ideologias ou diferenças entre esquerda/direita no Brasil; pode ser apenas resultado do fato de que a política ‘real’ de ‘dia-a-dia’ feita em Brasília passa a léguas de questões fundamentais ou de real cunho ideológico. Um retrato escancarado do baixo nível das discussões na câmara e no senado – enquanto o país sangra uma série de problemas graves, os engravatados passam a maior parte do ano discutindo inutilidades e projetos de puro interesse político, que em nada refletem convicções filosóficas. Trocando em miúdos, não são os parlamentares que não possuem posições claras, as discussões é que são irrelevantes e não demandam uma posição ideológica definida.

    A inexistência de uma agenda decente, disposta a discutir nossas verdadeiras ‘chagas’, ajudaria a explicar assim a aparente falta de coesão ideológica na política brasileira.

    Abraços e keep on the good work!

    Responder
  23. Luís Henrique

    Ricardo,

    você, logo no começo, nos diz que:

    “E tento manter meus comentários sempre no lado da estatística da coisa, não insiro nenhuma informação sobre a ideologia dos partidos nos dados e não faço juízo de valores das decisões dos governos de cada partido.”

    Já no final, nas suas conclusões, você afirma que:

    “os gráficos que apresentei colocam em xeque uma noção política que tentamos usar no Brasil, mas falhamos: nossa tentativa de rotular partidos e parlamentares como de esquerda ou de direita.”

    Entretanto, como se pode chegar a conclusões sobre “direita e esquerda” se não inserimos a ideologia como uma variável (ou variáveis)? Sim, os dados que você nos mostra indicam que existe uma quantidade considerável de parlamentares que é atraída para o governo – qualquer governo. E até que existe um partido que é assim, o PMDB, ao lado de parlamentares individuais de diversos partidos. Mas o que isso nos diz sobre o conteúdo do governo, da oposição, das leis aprovadas ou rejeitadas, do comportamento individual de cada parlamentar, do ponto-de-vista ideológico? Quando o governo muda, em 2002, e a maioria dos parlamentares peemedebistas (assim como alguns outros menos votados) passa a votar com o novo governo, isso significa o quê? Que o novo governo não passa de uma continuidade do velho (e por isso pode ser apoiado sem constrangimentos pelo PMDB, que neste caso seria coerente e não teria mudado de posição)? Ou, ao contrário, que o governo mudou (e por isso agora é apoiado pelo PT/PCdoB/PDT, e contestado pelo PFL/DEM/PSDB)? Ou é um pouco de cada – e nesse caso, quanto? 90 a 10%, ou 50 a 50%?

    Sem inserir o conteúdo das políticas fica difícil responder a isso. Mas os seus dados demonstram que uma parcela considerável de parlamentares permaneceu na oposição, sem esmorecer (ou pelo menos esse esmorecimento não aparece nas votações), durante doze anos, de 1990 a a 2002, e que outra parcela considerável de parlamentares, que havia sido governo nesse período, passou a ser oposição a partir de 2003, e vem se mantendo aí, de forma mais ou menos coerente também.

    Agora, o comportamento dos parlamentares que eram governo no primeiro período e continuam sendo governo no segundo tem uma explicação fácil: o governo exerce uma “atração gravitacional” própria, por que quem o apóia tem acesso a cargos no Executivo, que estão vedados a quem se opõe. Se essa força fosse a única em ação, todos os deputados convergiriam necessariamente para o bloco governista, qualquer que ele fosse (assim como na Lua todos os objetos caem com a mesma velocidade, por que a gravidade é a única força em ação, não é contrastada pela resistência do ar). Mas como há dois grupos diferentes de deputados que “voam” contra a ação dessa gravidade como se estivessem na Terra, deve haver alguma espécie de “resistência do ar” que lhes permite fazer isso. Minha primeira hipótese é que essa “resistência do ar” é o que chamamos, por falta de melhor palavra, “ideologia”: algum conjunto de ideias ou práticas que exerce sua própria atração, de forma que, para alguns, é preferível ficar sem cargos no Executivo a abandonar essas ideias ou práticas.

    (E me parece claro que, como há dois grupos diferentes de parlamentares que fizeram oposição no período considerado, deve haver também pelo menos duas “ideologias” diferentes em ação. Se elas ficariam melhor sendo chamadas de “direita e esquerda” ou “azul e vermelho” ou “chá e café”, ou “fla e flu”, me parece bem menos relevante.)

    Responder
    1. Luís Henrique

      Uma boa leitura, se você se interessa por esse tipo de problema, é “Modelos de Partido”, de Angelo Panebianco, particularmente a introdução e a primeira parte, “A Ordem Organizativa”. Editado pela Martins Fontes em 2006 (o original italiano é de 1982).

      Responder
  24. Pingback: O PMDB e a valsa dos partidos | DNA Cético

  25. Marcelo

    Cara, fazia tempo que eu não lia algo que prestasse na net. Você foi brilhante na idéia, na elaboração dos dados e na neutralidade que o tema requer. Parabéns!!

    Responder
  26. Pingback: A favor do PMDB - O Contraditório

  27. Jorge Leandro

    Olá, Ricardo.
    Estou maravilhado com a qualidade do seu post!
    Eu sou professor universitário e doutorando de economia (fazendo sanduíche na França).
    Trombei com o seu blog procurando informações sobre quais os partidos da base de apoio governista para refinar um banco de dados que estou construindo sobre eleições no Brasil.
    Não entendo patavina das técnicas que você utilizou para gerar as animações, mas as sacadas por trás deles são ótimas.
    Por favor, me ajude a entender um pouco mais claro: os valores dos eixos de X e Y são o que, exatamente? Se os dados são SIM, NÃO e MURO, porque aparece uma variação tão grande dos valores de X e Y?
    Muito obrigado pela publicação interessantíssima e tenha misericórdia deste ignorante acerca desses procedimentos estatísticos avançados por ti empregados!

    ,

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Oi Jorge, os valores de X e Y são as coordenadas dos autovetores associados aos maiores autovalores da matriz de correlação. Em linguagem de gente, as coordenadas não importam tanto, o que importa é a distância entre os pontos. Quanto maior a distância, menor é a correlação entre os deputados. Você pode perceber que a coordenada X é maior que a Y, porque é o autovetor associado ao maior autovalor. A interpretação dele é o quão “governista” ou “oposicionista” é um deputado. A coordenada Y é uma “correção” dessa quantidade. O PSOL e o PSDB são oposicionistas, ficam parecidos no X, mas fazem oposição de forma diferente, o que representa uma diferença no Y.

      Responder
  28. Robert

    Caro Ricardo,
    Desculpe se estou repetindo o que outros falaram aqui, mas não tive tempo suficiente para ler todos os comentários. Só quis levantar uma coisa: você pensou nas dimensões e o conteúdo delas? Ou seja, nós gráficos e vídeos (que eu gostei muito), tem duas dimensões, mas na sua explicação gráfico no começo do artigo, você mostra basicamente uma dimensão: governo e oposição (porém é feito como um quadro de duas dimensões. A razão eu pergunto é porque normalmente nesta literatura de pontos ideais, a dinâmica governo-oposição (ou esquerda-direta, que é mais comum) é feito com uma dimensão só; o conteúdo da outra vem de uma outra dinâmica, por exemplo “free trade” contra protecionismo.
    Este ponto também levanta o que alguém comentou em cima: sem usar o conteúdo das votações, não temos razão para concluir que é governo-oposição. Isso pode ser uma correlação somente, dado que tinha PSDB em governo e depois o PT, que cria uma mistura de ideologia com a dinâmica de governo-oposição.

    Adorei os vídeos, mas gostaria de ver uma discussão sobre a segunda dimensão e porque você usou duas dimensões.

    Responder
    1. Ricardo Marino Autor do post

      Caro Robert, essa é uma pergunta interessantíssima. A escolha do número de dimensões depende de alguns fatores matemáticos interessantes (o tamanho dos autovalores da matriz de correlação), mas consigo explicar sem usar isso. Se eu usasse apenas uma dimensão, eu de fato cairia em um espectro governo – oposição tradicional. Usando uma segunda dimensão, eu acrescento informação e evito diversos problemas que o caso unidimensional teria. Pegue os partidos PSDB e PSOL no ano 2013, por exemplo. Ambos são oposição, ambos discordam do governo. Em um gráfico unidimensional, eles cairiam lado a lado. No entanto, com a segunda dimensão eu percebo que eles discordam em pontos diferentes. Ainda que próximos no X, eles se distanciam no Y, mostrando que uma representação unidimensional esconderia informações interessantes.

      Claro que a situação ideal seria um gráfico em N dimensões, mas não dá para fazer um negócio desses. A pergunta é: duas é o suficiente? Do ponto de vista matemático sim, por alguns motivos interessantes que não cabem aqui. A estrutura partidária fica bem representada em duas dimensões. Em uma já é interessante (os gráficos do FHC são quase unidimensionais, os deputados estão quase na mesma linha), mas em outros governos a situação fica mais complicada e a segunda dimensão é um artifício interessante para enxergar essas diferenças.

      Responder
  29. Robert

    Obrigado por responder, Ricardo!

    Eu concordo que os partidos muitas vezes tem uma discriminação entre si numa segunda dimensão, e entendo como a quantidade das dimensões são escolhidos. No meu trabalho, por exemplo, uso o parâmetro de discriminação do modelo IRT (2-parameter) que mostra em quais dimensões as propostas causam uma discriminação significante. Meu pergunto era (e desculpe, não falo português fluentemente, acho que não escrevei claro), você achou um tema comum nas votações da segunda dimensão?
    Ou seja, que causa o PSDB e o PSOL ter pontos diferentes na segunda dimensão em 2013, por exemplo? Porque pode ser que a segunda dimensão ajuda entender as legislaturas além da dinâmica governo-oposição.

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  30. Tomas da Nóbrega

    Olá,
    Li esse post quando foi lançado. Primeiramente gostaria de parabenizá-lo. Achei interessantíssimo. Hoje, próximo da minha graduação em economia, gostaria de expandir essa ideia para uma tese de monografia. Ao invés dessa solução gráfica, eu utilizaria os dados em regressão econométrica. Ainda é uma ideia incipiente mas acredito que seja factível e fique um trabalho bem legal.

    Gostaria de saber se posso utilizar esses seus dados para isso (com a devida referência) como ponto de partida, e gostaria de atualizá-los.

    Ademais, caso você julgue pertinente, gostaria de saber o seu e-mail, para poder sanar qualquer dúvida eventual ao lidar com os dados.

    Grato,
    Tomás

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  35. Igor Szigethy

    Discordo profundamente de seu posicionamento! Acho um absurdo alguém vir a publico dizendo que se come coxinha pela base visto que o o bico alem de mais facilmente abocanhável também reserva o recheio para o final da degustação!
    Trabalho sensacional, se tiver redes sociais por favor liste pois merece seguidores!

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  36. Guilherme Cé

    Achei esse post no “baú” das minhas recordações aqui. Não sei se essa mensagem chegará ao autor, mas seria sensacional esse trabalho ter continuidade até os anos recentes. Sensacional, parabéns!

    Responder

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